A quadratura do círculo: quando a teoria desconhece a prática

Nos últimos tempos temos acompanhado as notícias que surgem sobre as atuações dos fundamentalistas religiosos na política, bem como os seus intrincados relacionamentos. A bomba detonada hoje foi a prisão preventiva do líder da Assembléia de Deus dos Últimos Dias, o pastor Marcos Pereira, acusado por envolvimento com o tráfico de drogas, lavagem de dinheiro, homicídio, estupro e pedofilia. Os abusos sexuais foram descobertos durante as investigações que iniciaram há cerca de um ano, pela sua suposta ligação com o crime organizado. Uma das vítimas alega ter sido abusada pela primeira vez aos catorze anos de idade. Outra seria sua própria ex-esposa. Segundo o Jornal Hoje, uma testemunha afirmou que Pereira também requisitou os serviços de um médico para fazer abortos nas mulheres que ele engravidava.

Ao todo, seriam seis vítimas de estupro, todas elas evangélicas. Pereira ainda possuía um imóvel, como sempre registrado em nome da igreja, mas gostosamente fruido particularmente pelo religioso, na região de Copacana, Rio de Janeiro, avaliado em 8 milhões de reais, que utilizava para promover orgias com os fiéis. Contudo, os abusos também teriam ocorrido no próprio templo, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. Segundo o delegado Márcio Mendonça, o pastor dizia para as pessoas que elas “estavam possuídas por demônios e precisavam ter relações sexuais com ele, que era uma pessoa santa”.

Não é a primeira e não será a última notícia sobre abusos sexuais envolvendo líderes religiosos – infelizmente. Contudo, porque ela nos é pertinente? Sabe-se que Marcos Pereira e Marco Feliciano são amigos há algum tempo, e o líder da Assembléia de Deus dos Últimos Dias era, até ontem, pessoa bem vinda nas reuniões da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, como é possível ver pela foto. Além disso, Feliciano defendeu Pereira no plenário em fevereiro, após uma reportagem do SBT que questionava as reais intenções do líder religioso, que alegava ser o salvador da vida de detentos e viciados em drogas. Ele, por sua vez, não se negou a declarar apoio a Feliciano, seja na fé ou na política.

Se o presidente da CDHM tinha conhecimento dos pecados do amigo – que obviamente serão perdoados! – não sabemos ainda e, talvez, morreremos sem saber. Contudo, Pereira é um homem de bem e ordeiro, digno de Deus e da lealdade dos fiéis da igreja soberana, e as lições que os fundamentalistas cristãos nos deixam é:

– Se você é mulher, engravidou e decidiu que a melhor opção é a interrupção daquela gestação, merece ir para a cadeia e ser punida por homicídio. Na verdade você nem precisa abortar, basta defender a legalização para ser vista como uma criminosa em potencial. Mas se você é homem, líder religioso temente a Deus, e não quer que as suas vítimas de estupro saiam por aí carregando um filho seu, tem todo o direito de requisitar os serviços de um médico e obrigá-las a abortarem o feto, independente de suas vontades.

– Dentre todos os pecados listados na Bíblia, existe um que é o maior de todos, e não é blasfemar contra o espírito santo: é a homossexualidade. Você pode matar, estuprar, roubar, pregar o ódio, ser um genocida ou o que for. Certamente será perdoado, desde que não seja um homossexual ou que, pelo menos, não “pratique” a homossexualidade.

– Nada é mais mobilizador do que a fé, que remove montanhas e pessoas para ficarem uma madrugada em vigília na frente de uma delegacia em defesa de um ladrão/assassino/estuprador/pedófilo em potencial, acreditando, piamente, em sua inocência.

 

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Marcos Pereira ao centro, pessoa de bem e ordeira!