Movimentos sociais do lado de fora. Evangélicos do lado de dentro (17/04/2013)

Transcreverei o relato do ativista conhecido como Todd Tomorrow e vejam como condiz com os vídeos gravados por nós:

Relato sobre minha visita ao Congresso: Chegamos de ônibus com o pessoal da Educafro. Ja na entrada do anexo III, fomos barrados! A policia legislativa disse que tava muita bagunça e que não deixaria ninguém entrar. Olha só, a casa do povo, tomada pelo poder econômico e pelos obscurantistas. Índios, negros, LGBTs, tudo jogado na calçada. Fizemos algumas manobras, que é melhor não falar aqui porque estamos sendo super monitorados e conseguimos com que algumas pessoas dos movimentos sociais entrassem. Então começamos a pressionar de dentro e de fora. “Deixa o povo entrar! Deixa o povo entrar!” Foi só então que alguns parlamentares foram a porta e fizeram alguma coisa, como pressionar o cuzão do Henrique Alves (PMDB) que ontem saiu correndo dos índios depois de tentar vender suas terras pra bancada ruralista. La dentro, encontramos um cenário desolador. Os manifestantes pró-Feliciano já estavam la, acomodados e tomando suquinho. Tudo pronto pra mostrar pra imprensa suja e mentirosa (Globo, SBT, Band, Record e CIA) que ele tinha amplo apoio. Os poucos manifestantes LGBTs que tinham conseguido entrar até então, estavam exauridos. Quando viram o movimento negro chegando, se encheram de esperança e encontraram forças pro embate dessa guerra cultural instalada no Brasil. Foi lindo! E o Feliciano, ficou chocado! Pois viu que o movimento negro agora ta na fita. No final, a Frente Parlamentar Pelos Direitos Humanos quis falar com a gente e conseguimos cavar uma audiência pública para daqui algumas semanas. Então, se possível e se não for atrapalhar seus planos bitolados, é melhor você se envolver, ou daqui 10 anos o Irã vai ser aqui!

 

Todos os que estiveram na Câmara Federal assinam embaixo do relato de Todd. Eu sou uma das militantes exauridas que o movimento negro encontrou. Assim que entrei na Casa e me dirigi à porta do plenário 9, local onde acontecem as reuniões da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, dei de cara com uma multidão de militantes evangélicos pró Feliciano. Enquanto isso, ativistas do movimento LGBT, do movimento negro e do movimento indigenista eram barrados nas portarias do Congresso Nacional.

Nessa mesma semana o pastor/deputado Marco Feliciano disse no Programa do Ratinho que os manifestantes contrários a ele, aqueles que tem marcado presença na CDHM, são pagos. Só que o que vimos lá foi o contrário. Os membros das igrejas que vão às reuniões são levados por pastores, que fretam ônibus (parece que na última quarta foram cinco veículos só de evangélicos), dão lanche e demais facilidades de acesso à Casa, enquanto os ativistas dos movimentos sociais são tratados com descaso, quando não com violência, pela segurança,  tendo o acesso restrito e, uma vez que conseguimos entrar, barreiras são colocadas ao nosso redor impedindo a nossa locomoção. Uma companheira havia saído para COMER na lanchonete e foi barrada na volta ao corredor de acesso ao plenário 9, só conseguindo passar após muita insistência. Ou seja: estamos sendo obrigados a ficar sem comer e sem ir ao banheiro, necessidades básicas de qualquer ser humano. Enquanto isso os evangélicos possuem facilidades que a nós são negadas, como é possível comprovar no seguinte vídeo:

No vídeo abaixo militantes de direitos humanos tem o acesso restringido à “Casa do Povo”, bem como os membros do movimento negro e do movimento indigenista:

O que temos assistido é um assalto aos fundamentos da laicidade do Estado, aos direitos humanos e à democracia. Nas últimas semanas os corredores da Câmara tem se transformado em espaço para a organização de cultos evangélicos, e a própria Casa tem dado todas as condições para que essas exorbitâncias se perpetuem. Enquanto isso minorias historicamente oprimidas como os LGBTs, os negros e os índios estão sendo censurados permanentemente no uso do espaço que ao povo pertence.

Todavia ainda resta esperança. Ver os movimentos sociais unidos por um único ideal mostra a força que ainda corre em nossas veias, e que muitos indivíduos desse país ainda clamam por justiça. Muito obrigada ao Movimento Negro Unificado e ao Educafro! Somos todos irmãos, estamos juntos nessa e em outras batalhas.

 

“Tchê, Zumbi, Antônio Conselheiro, na luta por justiça somos todos companheiros!”

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