É que Narciso acha feio o que não é espelho.

Por Jean Wyllys

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Depois de sair brevemente dos holofotes da imprensa por causa da PEC de Nazareno Fonteles (PT-PI), o presidente da Comissão de Direitos e Minorias da Câmara dos Deputados encontrou um meio de tentar atrair novamente, para si, a atenção da mídia: colocou na pauta da comissão os projetos de legalização de “cura da homossexualidade” e o da “criminalização da heterofobia” – ambos contrários à cidadania de lésbicas, gays, travestis e transsexuals. E está conseguindo. Não só parte da imprensa voltou a lhe dar atenção por conta disso, como também muitos ativistas voltaram a colocar o nome do presidente da CDHM em circulação na internet, atendendo a seus apelos narcisistas.

Alguns desses ativistas não apenas caíram na armadilha do pastor como, num arroubo de indignação histérica, também começaram a tratar a possível aprovação dos projetos na CDHM como algo que os converteriam em leis que passariam a vigorar no dia seguinte (ou seja, começaram a fazer tudo o que o pastor esperava para poder jogar para sua platéia homofóbica). Ora, não é assim que a banda toca.   Em primeiro lugar, se aprovados na CDHM (e serão porque os fundamentalistas religiosos, lá na comissão, são ampla maioria e têm quorum, mesmo com a saída dos cinco deputados verdadeiramente comprometidos com os Direitos Humanos e com as minorias), se aprovados aí, os projetos serão encaminhados para outras comissões onde eles jamais serão aprovados e jamais chegarão a plenário. Em segundo lugar, a CDHM  que aprovará esses dois projetos bizarros – um deles, um deboche descarado à democracia – tem legalidade, mas não tem legitimidade. O que isso quer dizer? Quer dizer que ela não é reconhecida nem respeitada por nenhum defensor dos Direitos Humanos ou organização dedicada a estes no Brasil; quer dizer que qualquer proposição legislativa que ela aprove não será levada a sério (nem mesmo por boa parte dos deputados daquela casa).

Sendo assim, não há razão para histeria. E essa atitude do presidente da CDHM  – essa de pôr em pauta dois projetos bizarros por uma comissão desacredita e sem legitimidade – só deve ser ridicularizada. A nossa saída dessa comissão foi a decisão mais acertada (aliás, eu defendi essa posição desde o primeiro momento em que ela foi tomada por uma maioria fundamentalista religiosa numa manobra política!). Acertada porque retiramos, dela, a legitimidade, já que não endossaríamos suas decisões com nossa inevitável derrota precedida de debate em que serviríamos tão somente de trampolim para o discurso reacionário e homofóbico da maioria, mas também porque, com a nossa saída, pudemos criar e garantir outros espaços políticos e legislativos para tocarmos a pauta dos Direitos Humanos de minorias. A nossa decisão foi tão acertada que o deputado João Campos, num arroubo de desespero, protocolou pedido de anulação desses espaços ao presidente da Câmara dos Deputados e o deputado Roberto de Lucena foi à tribuna pedir a nossa volta.

Enquanto a CDHM fazia audiência a porta fechadas para uma claque evangélica, a Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos Humanos recebia, a portas escancaradas e com a presença de movimentos sociais e outros defensores dos DHs, o relatório do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs e o do Projeto Monitorameto dos DHs no Brasil sobre violência na América Latina.   Estava clara a diferença ente nós e eles. Quem trabalha de verdade por direitos humanos não pode perder tempo com os caprichos de um narcisista irresponsável nem com o descaso de fundamentalistas com a dor de minorias estigmatizadas e sem direitos fundamentais garantidos. A nossa decisão foi acertada e agora os DHs de minorias contam com espaços legislativos e políticos para serem defendidos e promovidos.

Cuidado com as armadilhas!

Originalmente publicado aqui

Apesar de você amanhã há de ser outro dia.

Qualquer ativista que vive em Brasília possui um panorama privilegiado dos acontecimentos políticos do país. Quem não é militante, quem não está nem aí, quem se limita à assinar petições contra mensaleiros – acho válido, mas só isso não é o suficiente – não faz ideia da realidade que nos cerca. Estamos quase concluindo dois meses de luta incessante contra o fundamentalismo religioso no Congresso Nacional, e nossos atos vão desde o embate corpo a corpo nos corredores da Câmara Federal até vigílias pelo Estado Laico.

A mídia direitista, tendenciosa e de moral duvidosa, não cansa de nos pintar como “baderneiros”, “vagabundos” e – pasmem – “futuros ditadores”. Como se entrássemos no Congresso munidos de armas e escudos. Quando gritamos é para fazer valer nosso direito à liberdade de expressão, o nosso direito político, pois democracia não é só representativa, e tem sempre alguém que grita mais alto, que nos golpeia e que caça os nossos direitos – não só o de ir e vir e poder circular dentro da “Casa do Povo”, mas também o direito à opinião. Do contrário, porque na última reunião Feliciano só deixou que pessoas favoráveis à ele entrassem?

Falam tanto em ditadura gay, mas não vejo nenhum gay obrigando um hetero a deixar de ser hetero. Falam tanto em feministas “aborteiras”, mas não vejo nenhuma feminista obrigando alguém a realizar um aborto. O que vejo são projetos absurdos querendo instaurar a cura gay ou obrigar mulheres a aceitarem até os filhos gerados em um estupro.

Enquanto o obscurantismo cresce no espaço político, pessoas das mais diversas cores, credos, classes e orientações sexuais estão, nesse momento, realizando mais uma vigília pelo Estado Laico. Porque a única coisa que temos é a nossa voz e o legítimo desejo para ver esse país se tornar Estado democrático de verdade.

Um recado para uma fundamentalistas: NÓS NÃO VAMOS PARAR! É melhor irem se acostumando, porque ainda iremos incomodar MUITO!

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Fotos por Cícero Bezerra.

Nota Pública da ANNEB – Aliança de Negros e Negros Evangélicos do Brasil contra o crescimento do fundamentalismo religioso.

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NOTA PÚBLICA Nº 01 – 2013
 
Tema: Últimos acontecimentos em torno da eleição da Presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal
 
Assunto: Pronunciamento

Nós, da ANNEB – Aliança de Negros e Negros Evangélicos do Brasil vimos reafirmar o nosso compromisso com as Sagradas Escrituras (AT e NT), cujos valores inspiram a nossa luta contra toda e qualquer forma de discriminação à dignidade humana. O próprio Senhor Jesus Cristo, em seu evangelho, nos constrange a buscar entre todas as pessoas e de forma integral (Corpo, Alma e Espírito) uma vivência marcada pelo amor, pela justiça e pela paz, como testemunho autêntico de fé e compromisso com o seu Reino, principalmente com aquelas e aqueles que são consideradas e considerados mais vulneráveis em nossa sociedade.
Afinal, como bem diz o evangelho de Lucas 9.56 “O Filho do homem não veio para destruir as almas das pessoas, mas, para salvá-las”. Consequentemente, Jesus Cristo, por não fazer acepção de pessoas, convida a todos à vida plena, ao continuar dizendo: “Vinde a mim todos os que estais cansados e oprimidos e eu vos aliviarei” (Mt.11.28).
Isto posto, é nesse espírito de paz, justiça e amor que, de forma firme e irrevogável, nós, afiliadas e afiliados da ANNEB, repudiamos veementemente os pronunciamentos injuriosos contra as mulheres, os afrodescendentes e os homossexuais, proferidos pelo atual Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal.

Justificativa:
1. Nós, brasileiras e brasileiros, formamos um povo plural do ponto de vista étnico-racial. A diversidade assim compreendida é pauta atual e imprescindível nas relações sociais, institucionais e religiosas. Ao mesmo tempo é tão antiga como a imagem do corpo utilizada por Paulo (I Cor. 12.12), a qual evidencia a importância das diferenças das partes e a igualdade de valor de todas para o bom funcionamento do corpo, mesmo diante de classificações preconceituosas como: esta parte é melhor ou mais nobre que outras.
2. Embora afirmemos o ensino bíblico de que Deus criou a mulher e o homem e que esta é a sexualidade reconhecida pelas Igrejas Evangélicas, respeitamos o direito de escolha das pessoas homoafetivas, visto que vivemos numa sociedade democrática. Todavia, entendemos serem também inalienáveis os direitos iguais aos evangélicos no que tange à opção pela heterossexualidade.
Com efeito, o impasse que ora se estabelece na sociedade exige de todos nós, serenidade, maturidade e, sobretudo, responsabilidade em nossos discursos. Por isso, lamentamos a falta de preparo científico e amor fraterno do atual Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal, ao se pronunciar sobre temas, que no mínimo, nos convida a uma reflexão mais criteriosa.
A propósito, segundo Freitas, Arantes e Perilo (2010), essa possível virada icônica; hetero-homo; deve ser vista tanto no sentido da sexualidade-afetiva, quanto numa perspectiva política. De certa forma, a homossexualidade é também uma proposta de reorganização social, implicando em remanejo do capital econômico. Nesse sentido, o movimento homossexual deixa de ser visto como uma mera reação ao moralismo e passa a ser uma resposta à repressão e à exploração perpetrada por um sistema econômico patriarcal que junto com a modernidade já dá sinais de exaustão. Por aí se vê, que meros reducionismos ou mesmo, a violência verbal, não servirão em nada para dignificar o debate democrático. Isto posto, entendemos que precisamos de um moderador, cujo perfil esteja profundamente comprometido com a diversidade cultural e religiosa do nosso país. Não vemos esse perfil na atual presidência.
3. Reconhecemos que o racismo, os preconceitos e as discriminações são tratados nas igrejas e nas instituições evangélicas como tabu e com restrições. O assunto tem ensejado idéias de demonização e negativismo a respeito do povo negro e de seus costumes e tradições. Um exemplo disso são as afirmações do atual Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal, primeiro, atribuindo uma pseudo-maldição bíblica sobre as e os afro-descendentes, o que se constitui tanto uma perversidade, quanto um desrespeito crasso da exegese bíblica. Em tempo, a interpretação de textos sagrados a serviço da política ou mesmo da dominação e do controle social, não tem sido incomum na história da humanidade.
Nesta mesma linha de raciocínio, segue a segunda afirmação do Presidente em apreço, reforçando as representações machistas, ao propor a negação de direitos iguais às mulheres. Certamente, o mesmo não conhece a realidade das mulheres brasileiras, a começar de sua própria comunidade de fé. Não sabe que no país em que vive, mais da metade das famílias são monoparentais, chefiadas por mulheres. O nobre Senhor, não acompanha os jornais que diuturnamente demonstram que nossas mulheres estão sendo assassinadas. Certamente, o mesmo não tem tido interesse de acompanhar os últimos relatórios do Conselho Mundial de Igrejas que demonstram que “68% dos atendimentos a mulheres vítimas de violência, a agressão aconteceu na residência”.
Portanto, é inadimissível um parlamentar tão inconsequente em seus discursos os quais certamente, não representa as evangélicas e os evangélicos, as brasileiras e os brasileiros, incluindo católicas e católicos, comprometidas e comprometidos com uma vivência consciente dos valores do Reino de Deus (Paz, Justiça e Amor).
Nós da ANNEB entendemos, portanto, que dependendo da epistemologia cultural que uma dada sociedade alimente, haverá ou não respeito com a diversidade cultural de suas cidadãs e de seus cidadãos. E as religiões reúnem universos culturais simbólicos altamente diversos, por isso, a discussão dos direitos humanos certamente passa também pelo viés religioso. Do contrário, como bem nos lembra (Leitão e Vieira, 2010), “resta-nos a astúcia da ideologia da guerra e da classe oposta à outra”.

Referências

FREITAS, Fátima Regina Almeida; ARANTES, José Estevão Rocha; PERILO, Marcelo de Paula Pereira. Combatendo o preconceito: Discriminação e homofobia – Curso de Especialização, Diversidade Cultural e Cidadania, Universidade Federal de Goiás, 2010.
INFORMATIVO REGIONAL DA IGREJA METODISTA. 5ª RE. Ano 16. Janeiro-Fevereiro de 2013.
LEITÃO, Rosani Moreira e VIEIRA, Marisa Dama. Diversidade cultural e Cidadania In CIAR (Centro Integrado de Aprendizagem em Rede, UFG), 2010.

Assessoria:
Rev. José Roberto Alves Loiola Relatoria Ministerial
Encaminhada para ANNEB-DF em 02/04/2013.

OAB e entidades sociais denunciam Feliciano e Bolsonaro por campanha do ódio

Porque coisa boa também merece ser anunciada! O nosso muito obrigada à todos os deputados e deputadas que estão na Frente Parlamentar de Direitos Humanos, às entidades da sociedade civil, à OAB e à todos que não fecharam os ouvidos aos apelos da população brasileira, sobretudo aqueles que mais precisam de atenção e segurança! Juntos somos mais fortes!

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Liderando um grupo de mais de vinte entidades ligadas aos direitos humanos, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) enviará, na próxima semana, representação ao presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, contra os parlamentares Marco Feliciano (PSC-SP) e Jair Bolsonaro (PP-RJ). A entidade quer que a Corregedoria da Câmara puna os dois por quebra de decoro parlamentar em virtude de divulgação de vídeos considerados difamatórios.

Em um dos vídeos, Bolsonaro teria editado a fala de um professor do Distrito Federal em audiências na Câmara para acusá-lo de pedofilia e utiliza imagens de deputados a favor da causa homossexual para dizer que eles são contrários à família.

Para o presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB, Wadih Damous, essas campanhas de ódio representam o rebaixamento da política brasileira. “Pensar que tais absurdos partem de representantes do Estado, das Estruturas do Congresso Nacional, é algo inimaginável e não podemos ficar omissos. Direitos Humanos não se loteia e não se barganha”, disse. Indignado com os relatos feitos por parlamentares e defensores dos direitos humanos durante reunião na sede da entidade, Damous garantiu que “a Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB será protagonista no enfrentamento a esse tipo de atentado à dignidade humana”.

A campanha difamatória vem sendo difundida na internet contra os deputados Jean Wyllys (PSOL-RJ), Erika Kokay (PT-DF), Domingos Dutra (PT-MA) e os ativistas Tatiana Lionço e Cristiano Lucas Ferreira, ambos do Distrito Federal. Na reunião com a CNDH da entidade dos advogados estiveram presentes, além dos deputados acusados na campanha difamatória, representantes da secretaria Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República, do Conselho Federal de Psicologia, e ativistas dos movimentos indígena, de mulheres, da população negra, do povo de terreiro e LGBT.

O deputado Jean Wyllys considerou o encontro extremamente importante para levar para o centro das discussões um tema que é normalmente tratado como um tema menor da política e relegado à periferia aos assuntos de interesse da OAB. Segundo ele, a Frente em Defesa dos Direitos Humanos e Minorias vem fazendo o possível para que os responsáveis pela campanha difamatória não permaneçam impunes. No entanto, o assunto precisa receber uma atenção maior do governo federal, admitiu o parlamentar”

“Estamos falando de um ataque criminoso de parlamentares contra cidadãos brasileiros”, disse o parlamentar. “Eu fico muito feliz com essa decisão da OAB porque o sentimento de desamparo que esses ativistas estão sentindo eu também experimentei. Só que eu tenho uma vantagem: sou deputado federal e tenho minimamente uma estrutura que pode servir de defesa pra mim”.

Fonte: Jornal do Brasil

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Nossos guerreiros Tatiana Lionço e Cristiano Lucas com deputados da Frente Parlamentar de Direitos Humanos e advogados da OAB. Justiça será feita!

Querido Henrique Eduardo Alves

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Sr. Henrique Eduardo Alves, não tenho mais Bíblia em casa, será que terei que comprar uma para conseguir entrar na Comissão de Direitos Humanos e Minorias, ou adquirir uma saia à altura dos joelhos basta? Cortei meus cabelos recentemente e tenho o desenho de um ser satânico – um elfo – tatuado no braço. Se eu pedir o perdão divino o pastor aceita a minha entrada na Comissão, ou terei que tirar minha tatuagem à laser? Sei que na Câmara Federal Marco Feliciano atua como deputado, mas a CDHM virou um culto evangélico e eu, como pessoa perdida aos olhos do Senhor, não sou bem vinda lá. Na última quarta-feira, 24/04, nem mesmo na Casa consegui entrar. Fiquei do lado de fora, jogada na calçada, disputando o pouco espaço à sombra que havia disponível com outros ativistas, e só entramos quando o deputado Domingos Dutra apareceu e nos resgatou – meus agradecimentos ETERNOS à ele!

Lá dentro encontrei os únicos militantes que conseguiram alcançar os sagrados corredores, antes das portarias se fecharem ao público – leia-se: às pessoas perdidas, com cara de “viado”, “sapatão” e “esquerdista” – e presidente, eles estavam feridos moralmente e fisicamente. Uma companheira foi ameaçada de agressão por um assessor que ela não conseguiu identificar, pois foi retirada antes de ter a oportunidade de reagir. O outro foi chamado de “viado” e convidado à “sair pra porrada” por um segurança.

Enquanto pessoas amontoavam-se do lado de fora e outras eram violentadas do lado de dentro, a CDHM recebia os evangélicos de braços abertos. Feliciano deu ordens para a polícia da Casa deixar as pessoas entrarem de acordo com os seus perfis. Uma medida, no mínimo, arbitrária. O único indivíduo contrário a Feliciano que conseguiu entrada na Comissão teve a boca fechada e foi retirado aos empurrões por se manifestar. O único espaço que tem se mostrado receptivo a nós é a Frente Parlamentar de Direitos Humanos, o único ponto de lucidez presente nesse Parlamento, tão omisso às necessidades do povo e tão fragilizado pelas suas bancadas baseadas em interesses pessoais e acordos políticos.

É por isso, Sr. presidente, que escrevo, que grito, que luto, que me revolto, que me arrisco e que me exponho. Porque não é só a cidadania que está ferida, é a laicidade do Estado que foi espancada, a partir do momento em que as portas se fecharam ao resto das pessoas e se abriram à uma pequena fração de evangélicos fundamentalistas. Perde a democracia, o Parlamento e a população brasileira, em favorecimento às vontades de um pastor/deputado que se julga maior que o próprio povo que diz representar.

Atenciosamente,

Ana Vitória.

Mulher, humana, brasileira.

Movimentos sociais do lado de fora. Evangélicos do lado de dentro (17/04/2013)

Transcreverei o relato do ativista conhecido como Todd Tomorrow e vejam como condiz com os vídeos gravados por nós:

Relato sobre minha visita ao Congresso: Chegamos de ônibus com o pessoal da Educafro. Ja na entrada do anexo III, fomos barrados! A policia legislativa disse que tava muita bagunça e que não deixaria ninguém entrar. Olha só, a casa do povo, tomada pelo poder econômico e pelos obscurantistas. Índios, negros, LGBTs, tudo jogado na calçada. Fizemos algumas manobras, que é melhor não falar aqui porque estamos sendo super monitorados e conseguimos com que algumas pessoas dos movimentos sociais entrassem. Então começamos a pressionar de dentro e de fora. “Deixa o povo entrar! Deixa o povo entrar!” Foi só então que alguns parlamentares foram a porta e fizeram alguma coisa, como pressionar o cuzão do Henrique Alves (PMDB) que ontem saiu correndo dos índios depois de tentar vender suas terras pra bancada ruralista. La dentro, encontramos um cenário desolador. Os manifestantes pró-Feliciano já estavam la, acomodados e tomando suquinho. Tudo pronto pra mostrar pra imprensa suja e mentirosa (Globo, SBT, Band, Record e CIA) que ele tinha amplo apoio. Os poucos manifestantes LGBTs que tinham conseguido entrar até então, estavam exauridos. Quando viram o movimento negro chegando, se encheram de esperança e encontraram forças pro embate dessa guerra cultural instalada no Brasil. Foi lindo! E o Feliciano, ficou chocado! Pois viu que o movimento negro agora ta na fita. No final, a Frente Parlamentar Pelos Direitos Humanos quis falar com a gente e conseguimos cavar uma audiência pública para daqui algumas semanas. Então, se possível e se não for atrapalhar seus planos bitolados, é melhor você se envolver, ou daqui 10 anos o Irã vai ser aqui!

 

Todos os que estiveram na Câmara Federal assinam embaixo do relato de Todd. Eu sou uma das militantes exauridas que o movimento negro encontrou. Assim que entrei na Casa e me dirigi à porta do plenário 9, local onde acontecem as reuniões da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, dei de cara com uma multidão de militantes evangélicos pró Feliciano. Enquanto isso, ativistas do movimento LGBT, do movimento negro e do movimento indigenista eram barrados nas portarias do Congresso Nacional.

Nessa mesma semana o pastor/deputado Marco Feliciano disse no Programa do Ratinho que os manifestantes contrários a ele, aqueles que tem marcado presença na CDHM, são pagos. Só que o que vimos lá foi o contrário. Os membros das igrejas que vão às reuniões são levados por pastores, que fretam ônibus (parece que na última quarta foram cinco veículos só de evangélicos), dão lanche e demais facilidades de acesso à Casa, enquanto os ativistas dos movimentos sociais são tratados com descaso, quando não com violência, pela segurança,  tendo o acesso restrito e, uma vez que conseguimos entrar, barreiras são colocadas ao nosso redor impedindo a nossa locomoção. Uma companheira havia saído para COMER na lanchonete e foi barrada na volta ao corredor de acesso ao plenário 9, só conseguindo passar após muita insistência. Ou seja: estamos sendo obrigados a ficar sem comer e sem ir ao banheiro, necessidades básicas de qualquer ser humano. Enquanto isso os evangélicos possuem facilidades que a nós são negadas, como é possível comprovar no seguinte vídeo:

No vídeo abaixo militantes de direitos humanos tem o acesso restringido à “Casa do Povo”, bem como os membros do movimento negro e do movimento indigenista:

O que temos assistido é um assalto aos fundamentos da laicidade do Estado, aos direitos humanos e à democracia. Nas últimas semanas os corredores da Câmara tem se transformado em espaço para a organização de cultos evangélicos, e a própria Casa tem dado todas as condições para que essas exorbitâncias se perpetuem. Enquanto isso minorias historicamente oprimidas como os LGBTs, os negros e os índios estão sendo censurados permanentemente no uso do espaço que ao povo pertence.

Todavia ainda resta esperança. Ver os movimentos sociais unidos por um único ideal mostra a força que ainda corre em nossas veias, e que muitos indivíduos desse país ainda clamam por justiça. Muito obrigada ao Movimento Negro Unificado e ao Educafro! Somos todos irmãos, estamos juntos nessa e em outras batalhas.

 

“Tchê, Zumbi, Antônio Conselheiro, na luta por justiça somos todos companheiros!”

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Entrevista com Rodolfo Mohr, ativista agredido por militante fundamentalista no dia 03/04

No dia 03/04, em mais uma manifestação contra a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara Federal, alguns ativistas foram agredidos por um militante fundamentalista favorável ao deputado/pastor Marco Feliciano (PSC/SP). Nós conseguimos conversar com um deles. Rodolfo Mohr é jornalista, estudante de Direito, membro do movimento Juntos! e tem nos acompanhado nos atos em defesa do Estado Laico e dos Direitos Humanos. Acompanhem o relato! 

~*~

 

Estado Laico e Direitos Humanos: Rodolfo, antes de iniciar o relato, fale um pouco sobre você. Qual a sua profissão? Pertence a algum movimento social organizado, ONG ou é um ativista independente?

Rodolfo: Sou Rodolfo Mohr, jornalista, estudante de Direito, do movimento Juntos.

ELDH: Que contribuições as organizações da sociedade civil podem dar à luta pela separação das igrejas em relação ao Estado?

RM: Os diversos movimento engajados no Fora Feliciano tem uma enorme contribuição ao debate do Estado Laico. Não é fácil separar a fé das pessoas das diversas outras esferas da vida, porém é essencial que em se tratando de política, do Estado, prevaleça a laicidade como forma de tratamento igualitário a todas as religiões e às pessoas sem religião.

ELDH: Porque você acha importante se manifestar contra a presença do deputado Marco Feliciano frente à Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara Federal?

RM: A mobilização pela saída de Marco Feliciano fortalece a defesa dos direitos das mulheres, dos negros, dos LGBT, das chamadas minorias, que se contabilizadas são a maioria da população brasileira. Marco Feliciano tornou-se um símbolo na luta pela defesa da liberdade de expressão e pelo respeito aos direitos civis plenos, ainda não conquistados em nosso país.

ELDH: Na última quarta-feira, 03/04/2013, você esteve presente na Câmara Federal no ato contra Feliciano, onde foi agredido por um militante favorável ao deputado. Você poderia descrever como foi essa agressão?

RM: A agressão partiu de um militante religioso fervoroso, nitidamente estimulado por um discurso de ódio e raiva, que se transformou numa agressão a mim e outras pessoas. Tudo começou quando ele pregava, aos gritos, a necessidade de conversão dos homossexuais em heterossexuais. Quando começamos a filmá-lo com os celulares, tentou se esconder e reagiu violentamente, primeiro com chutes e depois com um tapa que acertou uma repórter. Apresentou-se antes do ocorrido, como membro da igreja do pastor Feliciano.

ELDH: Nesse episódio em algum momento você percebeu uma atitude profissional da Segurança da Câmara? Você se sentiu protegido ou ameaçado por essa segurança disponibilizada pela Casa?

RM: A Câmara agiu de maneira a gerar desconfiança. Este homem foi levado a um local, que segundo a segurança da Câmara, foi para registrar o ocorrido.

ELDH: Obrigado pele entrevista, e sigamos na luta!

Homenagem aos companheiros Tatiana Lionço e Cristiano Lucas

 

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(Clique na imagem acima para vê-la no tamanho original)

Material de divulgação dos atos na CDHM – Capa para facebook.

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(Clique na imagem acima para vê-la em tamanho original)

IV Vigília pelo Estado Laico e Direitos Humanos

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